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MARIA DO CARMO FERREIRA
Nasceu em Cataguases, Minas Gerais, Brasil, em 21-12-1938.
Formada em Letras na UFMG, mestrado em Literatura Comparada pela Universidade de Illinois, USA.
Já trabalhou como professora em Belo Horizonte (ensino secundário e superior), tradutora de peças teatrais, redatora de editoriais, publicitária e técnica em assuntos culturais da Raio MEC (RJ).
Tirou o 2º. Lugar no Concurso Nacional de Poesia Prêmio Bandeirantes com o livro Portafólio.
Colabora como poeta no Suplemento Literário de Minas Gerais e na revista José. Teve trabalho publicado na revista Invenção do grupo paulista que lançou a Poesia Concreta no Brasil.
Aos 14 anos se tornou poeta por excesso de amor. Morou em Belo Horizonte, São Paulo, radicou-se no Rio por mais de duas décadas e finalmente mudou-se para Niterói.
De 1969 a 1973 morou 2 anos na Europa e dois nos EE.UU, cursando mestrado em Literatura Comparada e lecionou língua e literatura brasileira no Colégio dos Graduados, Universidade de Illinois.
Hoje, aos 61, mestranda em Literatura Comparada, aposentada da Rádio Mec, onde serviu 30 anos como criadora, tradutora, redatora, produtora e coordenadora de programas litérários e lítero-musicais, como Técnica em Assuntos Culturais MEC/Demerg.
Complemento de biografia extraído de https://escamandro.com
TOTEM 9 - suplemento cultural do jornal Cataguases - setembro 1977. Ex. bibl. Antonio Miranda
Um carma, um carme, um carmim
Capineira capinei
meu caminho ora-pro-nobis.
Vassourinha vassourei
e me arranhei de lanhosa
ramosa lenhificada.
Quando fiquei flores alvas
deitei dormi sosseguei.
Caminheira caminhei
seguindo rutácea rota
sem lei nem grei rei nem roque
e em me plantando me dei
com os costados nos espinhos
a grinalda no cangote
de flores que laranjei.
Netrodorea pubescente
em catagué me encantei.
Virei limoeiro do-mato
hermafrodita geraniale
vegetei campos gerales
perseguida de esmeraldas
por turmalinos parentes.
Nasci princesa da mata.
Fui coroada. Coroei
de penas cabeça e pés
nas coitas que o amor me catre.
Carmelina carmeei
coito por coito e fiquei
em penúria e mais coitada.
Minha avó, me desentronca
do fundo desta masmorra.
Ruminei tanta esquivança
que tartamudo em desova
UI ui ui morro de medo
de dentro de minha cova.
Cataguá: me desencanta.
Que o meu avô não me ouça
farejando outras viagens.
Vou segregando sementes
translucidagrandulares
que aferrolho de alto a baixo
em carmona hereditário
pra semear noutras bandas.
Levo o meu fruto na cápsula
e cato outra Cataguases.
Oi oi oi belo horizonte.
Perdi a esperança. E o bonde?
Vi meu noivo atrás dos montes
além muito além das serras
que ainda azulam no horizonte.
Num tempo nunca-será.
Atravessei oceanos
de perdas lucros e danos
embrulhada em meu papel.
Avistei a torre Eiffel
(Catagué: que desencanto)
desde o fel da babilônia.
Carmanhola! Carmanhola!
Quem me canta é quem me chora.
Embarquei nesta emboscada
dançando a canção da moda:
vertiginosa parada.
Meu reino pelo que eu era.
Tudo, por meia-pataca.
Cataguá: quebrou-se o encanto.
Quem volta atrás vira estátua.
Quem não volta, à estaca zero.
Na memória assento praça.
No vento assento as memórias.
Vida noves fora: nada.
Amor: vida noves fora.
(1977)
*
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Página publicada em julho de 2021
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